O presidente Jair Bolsonaro em discurso na Assembleia-Geral da ONu: ´nossos nativos são seres humanos´ - 24/09/2019 (Foto: Carlos Allegri/Reuters)
Em 24/09/2019 às 15:37
Em seu primeiro discurso no plenário da Assembleia-Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro abriu frentes de ataques severos contra os governos de esquerda no Brasil, a atitude da França diante dos incêndios na Amazônia e até mesmo o cacique caiapó Raoni Metuktire, uma das principais vozes contra as políticas indigenista e ambiental da sua gestão. Sob a alegação de que trazia a “verdade” ao plenário, o brasileiro criticou até mesmo a própria ONU, a quem acusou de “perverter a identidade biológica”, em referência à oposição de seu governo à diversidade de gênero.
“Apresento aos senhores um novo Brasil, que esteve à beira do socialismo”, declarou logo no início de seu discurso de 31 minutos – 11 a mais do que o previsto. “Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que
formam nossas tradições”, completou, em uma clara apresentação do viés ideológico de direita de seu governo.
Em plena situação de fritura de seu ministro da Justiça, em Brasília, Bolsonaro interrompeu seus ataques apenas ao alçar a figura do ex-juiz Sergio Moro, a quem elogiou por seu combate à corrupção. Igualmente valeu-se da presença da indígena Izami Kalopalo, que trouxe à ONU como parte de sua delegação, para dar credibilidade a sua versão de que a Amazônia não está sendo destruída, de que seu governo combate o incêndio criminoso e de que sua política indigenista segue os anseios dos nativos brasileiros.
Bolsonaro não chegou a mencionar a França diretamente, mas referiu-se à nação presidida por Emmanuel Macron como “um país” que adotou uma postura colonialista, seguiu a “mídia sensacionalista” e ousou “sugerir a aplicação de sanções contra o Brasil” no episódio dos incêndios na Amazônia.
É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que nossa floresta é o pulmão do mundo”, afirmou. “Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista.”
Como manda a tradição nas Nações Unidas, coube ao Brasil o primeiro discurso, seguido pelos Estados Unidos. Essa deferência se dá desde a primeira reunião plenária oficial da Assembleia-Geral, em 1947. Naquela época, a ONU tinha 57 membros. Nesta 74ª reunião, são 195.
Até 1982, os discursos do Brasil foram feitos pelos ministros de Relações Exteriores ou pelos chefes da missão do país na ONU. Naquele ano, porém, o discurso foi feito pelo então presidente brasileiro, o general João Baptista Figueiredo. Na redemocratização, falaram no plenário da Assembleia-Geral os presidentes José Sarney, Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer.
Bolsonaro deverá manter uma conversa informal com o presidente americano, Donald Trump, logo depois de seus discursos, no prédio da ONU. O retorno de Bolsonaro a Brasília está previsto para hoje. Por razões médicas, ele cancelou todos os encontros bilaterais que manteria ao longo da semana em Nova York. O chanceler Ernesto Araújo cumprirá parte dos encontros nos quais o presidente se ausentará.
Fonte: Veja
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